O projeto Fabulações simpoéticas, a que temos nos dedicado há cerca de 5 anos, é composto por microperformances no espaço da cidade, por um trabalho em vídeo (corpo-árvore, 2021), pelo trabalho cênico Viver com, morrer com (2023) e por esta plataforma, Percurso das árvores, bem como por oficinas de criação e grupos de estudos realizados entre 2021 e 2023.
O projeto dialoga com o pensamento feminista (especialmente ecofeminista) e com linhas de pensamento que problematizam a separação natureza/humanidade, bem como outros essencialismos. Desta penca tão diversa de referências, nomeamos aqui Donna Haraway (pela forma como mobiliza conceitos de natureza-cultura, simpoiese, parentesco e Antropoceno, além de suas contribuições ao pensamento feminista); Anna Tsing, Nastassja Martin, Juliana Fausto, Vinciane Despret, Emanuele Coccia (que, de maneiras diferentes, nos convocam a perceber perspectivas não-humanas, fabulando possibilidades de viver-com); além de mestres/as como Antônio Bispo dos Santos e Geni Núñez (que são parte de grupos que sempre souberam de tudo isso, e que durante tanto tempo tiveram suas cosmologias e percepções invisibilizadas).
Interessadas em discutir o espaço concedido para a "natureza" e para as "mulheres" na cidade de São Paulo, um ambiente tão moldado pela "humanidade" e pelo "homem" em sentido ainda mais específico, nós da Penca temos realizado um trabalho de campo que consiste em acompanhar o serviço de remoção e poda de árvores nas áreas públicas da cidade, coletando troncos e galhos, além de muitas histórias e sensações. A matéria orgânica resultante das podas e remoções é quase toda descartada como lixo em São Paulo. Apesar da existência de pátios de compostagem e até de uma lei para o reaproveitamento do chamado "lixo verde", esse material costuma ir para o aterro sanitário de Guarulhos, junto com todo o lixo comum gerado pela cidade. O trabalho da Penca consiste em transformar algumas dessas matérias em protagonistas da cena, de forma a despertar reflexões sobre essas questões. Os trabalhos cênicos Viver com, morrer com (2023), e corpo-árvore (2021) confabulam uma comunidade multiespécie, em que se pergunta pelos cuidados, perigos e prazeres de viver junto em tempos de crise do Antropoceno.

Esta plataforma, concebida em parceria com o artista Bruno Kurru, consiste numa outra experiência sensível resultante do projeto Fabulações simpoéticas, para além dos trabalhos cênicos. A pesquisa de campo realizada pela Penca nesses últimos 5 anos na cidade de São Paulo nos sensibilizou para a importância do espaço como questão transversal aos temas que investigamos. A disputa pelo espaço no ambiente urbano; os espaços espremidos destinados às naturezas ou a tudo aquilo que não é humano (ou homem, em sentido ainda mais específico); as chamadas "áreas verdes" nomeadas em contraposição ao seu normal não-verde, não-natureza; os deslocamentos que os trabalhadores da poda (sempre homens, sempre precarizados) fazem diariamente para remover a natureza do caminho da cidade; os longos trajetos de caminhão do ponto de poda até o lixão; a geografia do lixão que não para de crescer, que espreme e infesta as comunidades vizinhas (sempre pobres); o percurso que as árvores fazem para crescer e continuar existindo, enfrentando encanamentos, muros, avançando sobre avenidas e frestas entre prédios; o espaço vazio e árido da árvore que não está mais lá.
Inspiradas por outras obras e ideias que utilizam o espaço – percebido pelo corpo sensível, sem nenhuma pretensão de objetividade – como dimensão que organiza narrativas, como as cartografias de Suely Rolnik, ou experiências como o Feral Atlas e o Atlas do Chão, formulamos este experimento Percurso das árvores como forma de dar corpo (desta vez, um corpo virtual e não cênico) e apresentar um conjunto de diferentes referências, textos, imagens, pensamentos, depoimentos, que fazem parte da nossa investigação nos últimos anos. Também sem nenhuma pretensão de ser geograficamente rigorosa, completa ou finalizada, esta plataforma está organizada por pontos no espaço, que foram escolhidos por terem sido importantes para a pesquisa – a maioria deles são pontos de onde recolhemos troncos e galhos utilizados em nosso trabalho cênico. Em cada um desses pontos há textos escritos, imagens, fotos ou vídeos, sejam eles documentais ou poéticos, que de maneiras diferentes se relacionam ao espaço em questão. Convidamos as pessoas participantes a escolherem os percursos de sua experiência, espiralando-se por esse conjunto variado de sensações e narrativas, inventadas e reais, documentais e poéticas, individuais e coletivas.

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Rua Guaicurus
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Rua João Moura
O que pensava o flamboyant da calçada oposta enquanto assistia toda a cena?
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Rua Daniel Cardoso
Av Dr Arnaldo
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A Penca (Andréa Barbour, Barbara Francesquine, Maria Carolina Vasconcelos Oliveira) é um coletivo paulistano que atua em artes circenses, integrando uma perspectiva multilinguagem e orientado por uma ideia de cena expandida. A Penca vem criando e confabulando, por meio de trabalhos cênicos ou realizados em outras plataformas, sobre questões relacionadas aos temas gênero e natureza – sem esquecer que essas ideias são, elas próprias, invenções humanas, situadas em tempos, espaços e sistemas de pensamento específicos.
Fundada em 2017, A Penca é composta por 3 mulheres de formações múltiplas, que, além das artes circenses, incluem as artes cênicas em sentido amplo (dança, performance), as artes visuais, os estudos ambientais e as ciências sociais. Encontramos no circo nosso chão comum e zona de militância – o circo, essa outra invenção que, além de ter a diversidade e a bricolagem como características fundantes, dispõe de tantos imaginários e ferramentas para abordar a questão do risco, tão presente também quando o assunto são os gêneros ou as naturezas.
Atuando na criação circense, nas práticas artístico-pedagógicas, na pesquisa sobre circo, na luta por políticas de fomento ao circo e em redes internacionais de promoção do circo (sobretudo na América Latina), somos mobilizadas pelo desejo de diversificar cada vez mais as artes circenses, no sentido de ampliar suas questões artísticas, trazendo, por exemplo, temas mais políticos e subjetivos para a cena.

Av República do Líbano
Rua João Moura
Rua Bela Cintra
Rua Bela Cintra
Praça Marechal Bittencourt
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Cinemateca Brasileira, Largo Sen. Raul Cardoso
Rua Coronel José Eusébio
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R. Dr. José Maria Azevedo - Vila Monumento
Moradores de rua queimaram uma parte desta árvore
de repetidas
fogueiras no inverno.
Um
dia
encontramos
um
boneco

dentro.
para
gerar calor,
deixando um oco em seu tronco,
que se tornou
lugar
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Rua Botocudos - Vila Anastacio
Pedreira Guarulhos
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Lapa
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Projeto premiado de estudantes da FAU USP que utiliza madeira de poda para construção de objetos. Mais informações aqui:
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Quanto custaria desviar o encanamento?
Qual o tamanho do problema "ter que varrer as folhas"?
Como o assunto seria tratado se o encanamento perturbado não estivesse num bairro nobre?
Quanto custa mobilizar todos esses trabalhadores (ainda que precarizados), o caminhão, o transporte e a gestão do lixo resultante?
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